Como o Luto Afeta o Corpo: Sintomas Físicos Comuns Após a Perda

 

homem enlutado no ambiente de trabalho com as mãos na cabeça e cansado

O luto é uma resposta natural e profundamente emocional à perda de alguém ou algo importante em nossas vidas.

Apesar de ser um processo geralmente associado ao campo emocional e psicológico, seus efeitos no corpo são igualmente notáveis.

Perder alguém que você ama pode desencadear uma série de histórias físicas que muitas vezes são subestimadas, ou que pode agravar o sofrimento do enlutado.

Neste artigo vamos explorar como o luto afeta o corpo, destacando os sintomas físicos mais comuns e as possíveis explicações biológicas para essas relações.

Além disso, discutiremos a importância de cuidar da saúde física durante o processo de luto e quando procurar ajuda médica.


O Luto e o Corpo: a conexão entre Emoção e Fisiologia

Quando falamos sobre uma perda significativa, nosso corpo lida com maneiras complexas.

Essa resposta física ao luto pode ser explicada em parte pela interação entre o sistema nervoso, o sistema endócrino (responsável pela regulação hormonal) e o sistema imunológico.

O estresse emocional extremo gerado pela perda pode sobrecarregar o corpo, desencadeando uma série de respostas fisiológicas.


Resposta ao Estresse e o Luto

O luto é uma fonte significativa de estresse emocional, e o corpo responde ao estresse através do eixo hipotálamo-pituitário-adrenal (HPA), um sistema que regula a liberação de hormônios do estresse, como o cortisol.

Quando enfrentamos uma perda, o corpo libera grandes quantidades de cortisol, o que pode ter diversos efeitos no organismo, como:


1.      Aumento da frequência cardíaca

2.      Elevação da pressão arterial

3.      Supressão do sistema imunológico

4.      Distúrbios do sono

Esse estresse prolongado e a liberação contínua de cortisol podem levar a diversos sintomas físicos e, em alguns casos, contribuir para o desenvolvimento de problemas de saúde a longo prazo.


rosto de uma mulher enlutada com os olhos fechados em meditação


Sintomas Físicos Comuns durante o Luto

Os sintomas físicos que acompanham a ampla variação de pessoa para e depende de fatores como a intensidade da perda, a saúde física prévia do indivíduo e o suporte emocional disponível.

Abaixo os 8 principais sintomas físicos que os enlutados podem experimentar:


1. Fadiga e Cansaço:

A fadiga extrema é um dos sintomas físicos mais frequentemente relatados por pessoas que estão de luto.

A tristeza profunda e o estresse drenam a energia emocional do corpo, deixando a pessoa com sentimentos exaustão.

Esse cansaço pode ser tanto físico quanto mental, dificultando tarefas diárias simples, como levantar da cama, preparar refeições ou manter o foco no trabalho.

Além disso, a falta de energia pode ser agravada por noites de sono perturbado, o que cria um ciclo vicioso de cansaço e falta de recuperação.


2. Insônia e Distúrbios do Sono:

A perda de um ente querido frequentemente provoca insônia ou padrões de sono interrompidos.

Isso pode ocorrer por várias razões: o cérebro pode estar hiperativo processando a dor, ou uma pessoa pode ter pesadelos ou pensamentos intrusivos sobre o falecido.

A privação do sono aumenta a irritabilidade e intensifica as emoções negativas, dificultando o processo de cura.

Por outro lado, algumas pessoas podem experimentar um aumento na necessidade de sono, usando o sono excessivo como uma forma de fuga emocional.


3. Dor no Peito e Palpitações Cardíacas:

A sensação de dor no peito, muitas vezes descrita como uma “dor no coração”, é outro sintoma físico comum no luto.

Isso pode estar relacionado ao aumento dos níveis de estresse e ansiedade, que afetam o sistema cardiovascular.

O luto também está associado ao aumento do risco de problemas cardíacos, como a síndrome do coração partido (cardiomiopatia de Takotsubo), uma condição temporária desencadeada por estresse extremo, que pode imitar os sintomas de um ataque cardíaco.

Segundo estudos, pessoas enlutadas, especialmente após a morte de um parceiro ou parceiro, apresentam maior risco de desenvolver doenças cardíacas, em grande parte devido ao impacto emocional e ao estresse que a perda provoca no corpo.


4. Sistema Imunológico Prejudicado:

O luto prolongado pode alterar o funcionamento do sistema imunológico.

A produção de cortisol em níveis elevados tem um efeito imunossupressor, o que significa que o corpo fica menos capaz de combater infecções e inflamações.

Estudos indicam que pessoas com luto podem ser mais suscetíveis a doenças como resfriados, gripes e outras infecções virais.

Esse “enfraquecimento” do sistema imunológico pode ser especialmente perigoso para pessoas idosas ou as que já possuem condições crônicas de saúde.


5. Problemas Digestivos:

Alterações no apetite e no sistema digestivo são sintomas frequentes durante o luto.

Algumas pessoas experimentam perda de apetite, o que pode resultar em perda de peso involuntária e desnutrição.

Em contrapartida, outros podem recorrer à comida como uma forma de conforto, levando ao ganho de peso excessivo.

Além disso, o estresse emocional pode agravar problemas digestivos existentes, como síndrome do intestino irritável (SII), refluxo ácido e outros distúrbios gastrointestinais.

O aumento na produção de cortisol também pode contribuir para a inflamação no trato digestivo, exacerbando a dor abdominal e os desconfortos intestinais.


6. Dores Musculares e Tensionais:

O estresse do luto pode se manifestar fisicamente através de dores musculares, especialmente na região do pescoço, ombros e costas.

Essas dores podem ser causadas pela tensão muscular contínua, que ocorre como uma resposta inconsciente ao estresse emocional.

Muitas pessoas que estão de luto também relatam dores de cabeça frequentes, que podem ser intensificadas pela falta de sono e pela tensão emocional.


7. Perda ou Aumento de Peso:

O impacto do luto no apetite pode levar tanto à perda quanto ao ganho de peso, dependendo de como a reação emocional do indivíduo.

Algumas pessoas perdem o interesse pela comida e pela alimentação regular, enquanto outras podem comer em excesso como uma forma de lidar com a dor.

A desregulação do apetite, seja para mais ou para menos, pode ter efeitos duradouros na saúde física, como desnutrição ou obesidade, ambos associados a uma série de outros problemas de saúde.


8. Queda de Cabelo e Problemas Dermatológicos:

A perda de cabelo é um sintoma físico menos discutido, mas bastante comum entre pessoas enlutadas.

O estresse prolongado pode interromper o ciclo normal de crescimento capilar, levando à queda de cabelo excessiva.

Condições dermatológicas, como acne, eczema ou psoríase, também podem ser exacerbadas durante o luto devido ao estresse e à alteração hormonal.


A Biologia do Luto: O papel do Sistema Nervoso e Hormonal

O impacto do luto no corpo não é apenas psicológico, mas também profundamente biológico.

Quando estamos sob estresse emocional intenso, o sistema nervoso simpático é ativado, liberando uma série de hormônios de estresse, como o cortisol e a adrenalina.

Esses hormônios têm efeitos imediatos e de longo prazo no corpo, afetando tudo, desde o sistema imunológico até a digestão e o sono.

Uma resposta prolongada ao estresse também pode levar à inflamação sistêmica, um estado em que o corpo está constantemente em alerta, o que pode agravar problemas de saúde subjacentes e levar ao desenvolvimento de novos problemas, como hipertensão e doenças autoimunes.


O Cuidado com o corpo durante o Luto

É essencial cuidar do corpo durante o processo de luto, mesmo que isso possa parecer difícil em meio à dor emocional.

Aqui estão algumas maneiras de mitigar os efeitos do luto:


Praticar exercícios leves: caminhadas e exercícios de baixa intensidade podem ajudar a aliviar o estresse e a liberar endorfinas, que são hormônios que promovem o bem-estar.

Manter uma alimentação saudável: mesmo que o apetite seja reduzido, é importante tentar manter uma alimentação equilibrada, rica em nutrientes que apoiam o sistema imunológico.

Estabelecer uma rotina de sono: criar hábitos regulares de sono pode ajudar a regular o relógio biológico e melhorar a qualidade do descanso.

Buscar apoio emocional: conversar com amigos, familiares ou um terapeuta pode reduzir o fardo emocional e, consequentemente, diminuir o impacto físico do luto.

Evitar substâncias químicas: o uso de álcool, drogas ou o consumo excessivo de cafeína podem piorar os sintomas físicos e emocionais do luto.


Quando procurar ajuda Médica?

Se os sintomas físicos do luto se prolongarem ou se tornarem debilitantes, é importante procurar ajuda médica.

O luto prolongado pode evoluir para problemas de saúde graves, como depressão, doenças cardíacas ou problemas autoimunes.

Sintomas como dor no peito, perda de peso extremo, dificuldade respiratória ou mental são sinais de que uma intervenção médica é necessária.

A terapia psicossomática, que aborda a conexão entre a mente e o corpo, pode ser útil para pessoas que estão experimentando sintomas físicos graves como resultado do luto.

Além disso, um médico pode recomendar exames para descartar condições médicas básicas que possam ter sido exacerbadas pelo estresse emocional.


Conclusão

O luto não é apenas um processo emocional; ele também afeta o corpo de maneiras profundas e, muitas vezes, debilitantes.

A compreensão dos sintomas físicos associados ao luto pode ajudar os enlutados a considerar e cuidar melhor de sua saúde durante esse período desafiador.

Embora a dor da perda possa parecer insuportável, é crucial lembrar que o autocuidado físico e emocional é parte essencial do processo de cura.

Procurar ajuda médica quando necessário e apoiar o corpo com cuidados adequados pode facilitar a jornada do luto, permitindo que uma pessoa retome gradualmente o equilíbrio em sua vida.


Referências

Bonanno, G. A. (2004). Perda, trauma e resiliência humana: subestimamos a capacidade humana de prosperar após eventos extremamente adverso? American Psychologist, 59(1), 20-28.

Kübler-Ross, E. (2017). Sobre a Morte e o Morrer. Rio de Janeiro: WMF Martins Fontes.

Kuest, H. (2021) Luto: exercícios e atividades práticas para lidar com a dor. 2ª ed.  Hadra Kuester.

O'Connor, M. F. (2022). O cérebro enlutado: a ciência surpreendente de como aprendemos com o amor e a perda. New York: HarperOne.

Rosa, D. (2024) A Neurociência do Luto: Um olhar sobre os aspectos fisiológicos e psicológicos dessa condição humana.  Independently published.

Worden, J. W. (2008). Aconselhamento e terapia do luto: um manual para o profissional de saúde mental. 4th Edition. New York: Springer.

 

Postar um comentário

0 Comentários